As narrativas sociais desempenham um papel fundamental na construção das culturas, elas referem-se às histórias, ideias e crenças compartilhadas por um grupo de pessoas e ajudam a moldar a visão de mundo, assim como os valores, as normas e os comportamentos dentro de uma cultura. Essas narrativas influenciam profundamente a forma como os indivíduos percebem a si mesmos, aos outros e ao mundo ao seu redor, abrangendo diferentes aspectos, como identidade, história, religião, política, gênero, sexualidade, etc; elas podem promover a inclusão e diversidade, ou perpetuar a exclusão e o preconceito, dependendo da maneira como são contadas, e infelizmente ainda vivemos num mundo onde a narrativa da opressão, erroneamente interpretada através da Bíblia, tem mais força e adeptos do que a da liberdade e respeito. As consequências disso podem desestabilizar qualquer pessoa que foge a norma.
É disso que fala o filme TREMORES, no título original Temblores, disponível no Prime vídeo através do canal Looke. A trama conta a história de um homem bem-sucedido, com cerca de 40 anos casado com uma mulher de família rica e com 2 filhos, mas que se vê infeliz na vida que leva e encontra uma saída na paixão que tem por outro homem, a ponto de largar tudo para viver com o amante, mas ele não foi preparado para lutar contra o sistema, e as consequências de suas escolhas podem trazer mais infelicidade, como terremotos que destroem todo seu passado. Aliás, acho que é nessa comparação que está toda a poesia do filme.
A narrativa da opressão com quem foge as normas é tão cruel que quando não mata fisicamente, mata emocionalmente; mata o desejo, a individualidade e personalidade. É isso que acontece através da cura gay retratada no filme de maneira quase industrial.
Tremores é um filme que incomoda em diversos aspectos, é difícil de reconhecer o tempo em que se passa, ao mesmo tempo que tem aspectos atuais, também preserva uma estética parada nos anos 70, talvez isso faça parte de uma crítica mostrando o quanto algumas narrativas são ultrapassadas. No entanto, o mais incomodo é a passividade do personagem principal, infelizmente comum a muitos homens. Um surto coletivo.
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