A timidez muitas vezes aparece como uma característica dos homens gays, tornando-se um dos principais complicadores para uma vida social saudável, mas será que é apenas timidez? O autismo vem sendo diagnosticado com cada vez mais frequência em adultos, "Passamos a vida toda nos achando diferentes das outras pessoas, mas sem saber o porquê. Sem o diagnóstico, nossas diferenças não são identificadas como sintomas, e sim classificadas como características pessoais. Ficam achando que somos apenas esquisitos”. Na resenha da série PRIMEIROS AMORES, eu não comentei, mas a personagem principal é autista, e esse foi um fator de extrema importância, principalmente para o desfecho da trama. Mas por que estou trazendo este tema como introdução?
Esse não é o tema da série TORE, disponível na Netflix, mas foi a impressão que eu tive sobre o personagem principal. TORE é centrada em um homem de 27 anos homônimo à série, que vive com seu pai e seu doguinho MJ. O Pai e a única amiga de Tore vivem o estimulando a sair de casa e conhecer a vida de verdade, relacionar-se e de certa forma amadurecer, até que um dia, um trágico acidente fez com que tudo isso acontecesse da noite para o dia. A maneira como o enredo foi se desenrolando fez com que eu olhasse o personagem de Tore como um homem possivelmente no espectro, mas confesso que antes dessa conclusão, minha percepção dele era de um personagem odiável, justamente por achar que ele era simplesmente um indivíduo imaturo e inconsequente.
Pessoas adultas com autismo costumam ter dificuldades na socialização, com prejuízo na compreensão de regras sociais, muitas vezes com dificuldade para compreender o que é dito de forma não explícita, além de apresentar hiperfoco no trabalho e aversão a mudanças de rotina. Talvez isso explicasse um homem gay de 27 anos, virgem, com apenas uma amiga, sem ferramentas emocionais para lidar com a perda do pai e muito menos para se colocar na condição de responsável de outro ser, no caso seu doguinho.
Tore é sobre uma jornada de autodestruição e autodescoberta, mas também é sobre olhar o outro com mais empatia antes de julgar suas ações. O final vai te emocionar.