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Invertendo os papéis

Frequentemente a revelação da orientação sexual é associada à juventude, um período de descobertas e definições da própria identidade. Essa narrativa sugere um caminho linear, onde a adolescência e o início da vida adulta são vistos como o momento "adequado" para tais revelações. No entanto, essa visão ignora a complexidade da experiência humana e a realidade de muitos indivíduos que atravessam esse processo em fases mais maduras da vida por diversos motivos, principalmente o preconceito muito mais evidente e violento de outros tempos. Quando alguém decide subverter essa lógica e compartilhar sua verdadeira identidade após anos de uma vida aparentemente consolidada, essa escolha não apenas revela a coragem de viver autenticamente, mas também uma certa evolução da sociedade que finalmente demonstra alguma segurança para essa tomada de decisão.


O curta brasileiro DEPOIS DAQUELA FESTA, disponível no Telecine e YouTube, fala exatamente sobre isso. Na trama um filho que descobre, por acaso, que o pai é gay, embarca numa tentativa de revelar que conhece o segredo do ‘coroa’, e se vê numa situação em que não sabe lidar com a descoberta sem ser invasivo. Esse enredo, ao invés de seguir o arco típico de autodescoberta na juventude, apresenta uma inversão intrigante dos papéis tradicionais em histórias de saída do armário. A tentativa do filho de trazer à tona a conversa, respeitando a vulnerabilidade e o tempo do pai, ilustra a complexidade das relações familiares independente de qualquer hierarquia.


Como em toda história de saía do armário, o medo é um personagem que está sempre presente, mas com uma pitada de comédia e uma boa dose de empatia o filme ganha uma abordagem delicada e profundamente humana, a história não somente subverte as expectativas sobre quem faz a revelação, mas também celebra a possibilidade de conexão e apoio mútuo frente às adversidades e aos medos.


A universalidade do desejo por aceitação e o poder transformador do amor, revelam o que todos já sabemos, o diálogo e a compreensão são fundamentais para a construção de relações familiares mais fortes e autênticas. No fim das contas ninguém deve ser julgado por se entregar ao amor.

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