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O preço da vaidade


Muito se fala sobre a palavra saudade ser exclusiva do português, o que nem é uma verdade, mas é no francês que o equivalente de saudade tem o significado mais avassalador: 'Tu me manques'. Na tradução literal ficaria: Você me falta. É como se o outro fosse parte de você, um órgão, um membro, algo essencialmente insubstituível; talvez 'tu me manques' seja a melhor expressão possível para definir a perda definitiva de alguém, a perda pela morte...irreversível. A dor dessa falta pode ficar ainda pior quando a saudade se mistura com culpa; a culpa por não ter enxergado o outro, por não ter percebido os sinais, estendido a mão, por não ter ouvido, acolhido, por ter dado mais importância ao comportamento padrão do que ao que vem do coração...o suicídio mata sempre mais do que um indivíduo.


O filme de hoje é mais do que um filme, é um filme inspirado em uma peça teatral baseado num acontecimento real, o nome já teve spoiler: TU ME MANQUES, disponível na HBO. A trama conta a história de Jorge, um pai que só foi conhecer verdadeiramente o filho após perdê-lo; seu filho Gabriel cometeu suicídio por não conseguir mais suportar o peso da cultura homofóbica de sua família, que mesmo a distância, ainda o afligia. Os caminhos de Jorge se cruzam com o de Sebastian, o grande amor de Gabriel que sequer ficara sabendo do ocorrido; é nesse momento que o filme começa.


O desenrolar dessa obra mistura o presente e a representação do passado, e essa é a parte mais sensacional da produção, já que em nenhum momento temos uma visão real de quem foi Gabriel; uma metáfora perfeita para ilustrar os personagens que temos que atuar para nos adequarmos ao que é esperado pela sociedade.


O fato é que para suportar a dor, pai e genro se aproximam numa tentativa de construir uma visão real de quem era Gabriel, e desse luto nasce uma peça de teatro com a finalidade de dar a vida eterna ao grande amor de ambos. Daqui pra frente não tenho muito o que falar para não estragar a experiência de quem irá assistir, mas uma coisa eu posso afirmar, nunca um filme foi capaz de provocar o que eu senti, é de arrepiar. O poder da arte é transformador, transforma dor em aditivo para o amor.

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