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O que a gente consegue ser

Dizem que ‘Mar calmo não faz bom marinheiro’, mas esquecem que para ele ser reconhecido como bom, pode ter ficado com marcas profundas, muito mais do que físicas. Além de um fator importante, em que tipo de barco estava esse bom marinheiro? O que queremos ser nem sempre se alinha perfeitamente ao que conseguimos ser dadas as circunstâncias. No entanto, isso não diminui o valor da nossa jornada; nossa identidade é uma construção complexa que envolve não apenas nossos desejos, mas também nossa capacidade de navegar pelas águas turbulentas da vida. A romantização do esforço que leva à perfeição deve ser ponderada, nem sempre sairemos bons marinheiros dessa vida, mas apenas sobreviventes.


O filme MOONLIGHT, disponível no Prime Video, aborda muito bem essa ótica ‘pé no chão’ de vi(ver) a vida. A obra vencedora do Oscar de melhor filme, conta de maneira poética, em 3 atos, a vida do protagonista Chiron, que desde a infância lida com questões de identidade, sexualidade e as complexidades de crescer em um bairro problemático, trazendo ainda a questão da marginalização do homem preto de maneira quase orgânica.


A trama está focada em acompanhar Chiron da infância até a fase adulta, mostrando como algumas situações são determinantes para as portas que se abrirão no decorrer da vida. Na infância, o menino enfrenta o bullying na escola por ser um garoto tímido, chamado de bixa sem nem entender ainda o que isso significava. Nessa fase duas figuras masculinas se fazem importante, um que ocuparia a referência paterna que ele não tinha, e o segundo um melhor amigo, possivelmente primeiro amor. Já na adolescência, Chiron ainda lida com os fantasmas do bullying e agora de maneira muito mais violenta; é também a fase em que sua homossexualidade se revela tornando-se um divisor de águas para o adulto que ele se tornaria.


Moonlight nos lembra que a compreensão da nossa própria complexidade é parte crucial da jornada humana, e que todo mundo tem seus próprios demônios internos. Não é sobre alcançar a perfeição, mas sim sobre abraçar nossa humanidade, nossas imperfeições e as transformações que ocorrem ao longo do caminho. É sobre ser feliz com quem você consegue ser.

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