Freud em “A moral sexual cultural e a nervosidade moderna” dizia que a cultura da época se edificava sobre o “sufocamento das pulsões” e que a pulsão sexual não está em sua origem a serviço da reprodução, como as religiões tentam nos empurrar. A obra mostra que a limitação sexual faz aumentar o medo frente à vida e a angústia frente à morte. Medo e morte se associam aos limites da sexualidade e principalmente nas formas de praticá-la, o mal deixa de ser um problema da ordem divina, e aparece como forma de violência e punição que os humanos causam para si próprios, sufocando o desejo, a atividade e a capacidade do juízo; o mal passa a ser uma questão do ser que emudece, calando o desejo. Calar o desejo adoece nosso corpo e a alma, e todos somos culturalmente educados para emudecer nossa energia sexual, e pior, somos adestrados a enxergá-la de uma maneira limitada que não é capaz de contemplar a diversidade humana, causando vazio e sensação de incapacidade de sermos plenamente felizes.
Depois dessa introdução cabeçuda, porque GPA é cultura, posso dizer que tudo isso é abordado no filme SHORTBUS, disponível no Prime Vídeo através do canal Reserva Imovision. A trama que pode assustar os desavisados nos primeiros minutos, tendendo ao pornô gratuito, trata de uma maneira muito peculiar e intimista as mazelas que vivemos em nossas vidas simplesmente por não sabermos lidar com nossa própria sexualidade.
É importante destacar que o pai da psicanálise acreditava que a sexualidade é uma força motriz fundamental da psique humana e que o desejo sexual é a base da vida emocional. Nesse sentido, "Shortbus" pode ser visto como um filme que explora a busca do prazer e a conexão emocional por meio da sexualidade. Os personagens do filme estão em busca de uma satisfação sexual que lhes traga realização e felicidade, mas muitas vezes essa busca é frustrada pela incapacidade de se conectar emocionalmente com o outro, o que acontece com o casal principal da trama, os gays Jamies e Jamie, que apesar do amor, se perderam no sentimento.
Esse é um filme sobre as crises humanas com base em seus instintos vitais, é sobre amor e medo; faz rir, choca e também emociona. Vele a pena!