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O amor é raro

“Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.”
Neruda, Pablo.

A sexualidade é assim, uma pequena folha que quase passa despercebida, mas quando menos esperamos suas raízes já estão unidas ao nosso sangue, tornando-se parte do que somos, não há como separar um do outro, não dá pra negar nossa natureza, e como toda natureza, queremos viver e florescer; mas devemos se fortes para passar pelo inverno.


O filme AZUL COBALTO, disponível na Netflix fala exatamente sobre não fugir de sua natureza. A obra, que é praticamente um poema visual, conta a história de Tanay, um garoto indiano que se apaixona pelo novo inquilino da casa de sua família. O romance construído entre os dois tem um quê de Me Chame Pelo Seu Nome, uma paixão alimentada pela admiração, mas que passaria pela falta de responsabilidade afetiva por parte do forasteiro que chegou roubando o coração do jovem Tanay. Por falar em roubar, o filme se passa num tempo em que de fato era crime ser homossexual na índia.


É fascinante a forma como "Azul Cobalto" explora a carência afetiva e a busca por identidade em um contexto que não permite muita liberdade para expressão da sexualidade. É um retrato sincero das dores, mas também dos pequenos êxtases que compõem a experiência humana. O filme é uma ode à luta pela autenticidade em um mundo que frequentemente demanda conformidade. A autodescoberta de seus personagens é pintada com pinceladas de dor e beleza, refletindo a realidade de muitos indivíduos LGBT+ que se veem sobrevivendo numa sociedade que não reconhece ou valida sua existência, como é o caso do personagem do Professor que acaba se mostrando como a libertação do jovem Tanay.


Essa é uma bela e poderosa produção que serve de metáfora sobre resiliência, esperança e a luta contínua pela aceitação e pelo direito de viver e amar livremente, ressaltando a beleza e a complexidade da individualidade humana em busca de autenticidade em um mundo muitas vezes hostil. Mas a primavera sempre chega.

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