Só quem viveu no armário sabe a complexidade de tentar controlar emoções tão diversas, o medo se opõe ao desejo, a curiosidade te expõe ao risco, a insegurança te priva da esperança, você é o caos, a infelicidade com espasmos de euforia, moléculas que se agitam cada dia mais com a pressão que impomos a nós mesmos, até que um dia tudo explode. A explosão é uma certeza, o que pode variar é se quem explodirá será sua mente ou seu armário. Até que essa reação aconteça, vamos suprindo nossas necessidades da maneira que dá, e para isso mergulhamos num mundo aparentemente protegido de julgamentos; podemos dizer que o conceito de metaverso é uma criação do gay no armário, um lugar virtual onde podemos ser o que quisermos ser, tem coisa mais gay no armário do que isso? O problema é que nesse lugar os lobos sempre vestem peles de cordeiros.
O filme de hoje está no Prime Vídeo através do canal Looke e chama-se BWOY, o nome significa Boy e tem origem Quiniaruanda, língua afro. A trama conta a história de um homem gay vivendo um casamento heteronormativo num momento complicado após a perda do único filho do casal. Por conta da tragédia a relação fica mais frágil, dificultando para o personagem principal reunir coragem e contar para esposa que é homossexual. Nesse limbo de decisão ele vive em seu mundo de caça virtual onde conhece um jovem jamaicano por quem se apaixona com toda facilidade que uma pessoa frágil e carente se apaixonaria. Vou ser sincero, não julgo porque já cai nesse papinho virtual, mas claro que como o bom escorpiano que sou, não deixei chegar ao ponto de me abalar.
A produção traz todo o caminho natural desse tipo de relacionamento, o início virtual, o contato por telefone, a paixão se construindo, o sexo virtual, a necessidade do contato que se assemelha com um vício, até que chega o momento do inevitável encontro (ou desencontro); é aí que esse filme trás uma reviravolta nada óbvia para quem acompanha a narrativa, nos deixando de boca aberta com a capacidade humana de criar vários armários em nossas vidas onde escondemos nossas dores.
Bwoy é um filme que fala sobre fugir de si mesmo, embora seja algo fisicamente impossível. Vale muito a pena! 🤯