“Vira Homem!”... “Homem não chora.” Quantas vezes você se lembra de ter ouvido isso na sua infância? Expressões desumanas, machistas, sexistas, violentas e humilhantes, mas que ainda assim são usadas contra milhões de garotos todos os dias no mundo todo. Quando alguém manda um menino 'virar homem' em oposição ao comportamento que é associado como feminino, está ajudando criar mais um machista, um homem inseguro e fraco que concluirá que não pode se expressar, a não ser com a violência, vivendo dentro de uma outra espécie de armário, o armário do homem bicho, animal irracional, do homem que esqueceu de evoluir.
O documentário COISA DE MENINO, disponível na @hbomaxbr, não é exatamente uma produção sobre sexualidade, mas trata de evidenciar toda a estrutura que torna muito mais difícil a vida e o desenvolvimento saudável dos meninos no Brasil, independente da orientação sexual. Por se tratar de uma série brasileira é muito fácil se identificar com os cenários, acontecimentos e principalmente com a cultura retratada. O machismo é um problema global, mas a forma “abrasileirada” como é representado faz com que o espectador possa de forma mais simples entender os pontos apresentados.
A produção mostra como o enraizado do machismo brasileiro é passado às novas gerações, o que faz perpetuar a intolerável “masculinidade tóxica”. O Doc traz à tona questões ligadas à criação e à educação de meninos por meio de contrastes e contradições, além de colocar em xeque velhos e novos conceitos sobre o comportamento masculino, repensando o papel do homem na sociedade. É nesse debate desafiador que o enredo é construído, propondo reflexões e questionando costumes e pilares da sociedade brasileira.
É importante considerar nosso atual momento, ainda sob impacto do crescimento repentino do conservadorismo endossado pelo último governo, onde segundo a ótica desse grupo, o homem deve ser criado para proteger, procriar e prover, formando assim os três P's da masculinidade; mas Coisa de Menino também se volta para as tentativas de quebrar esse ciclo com a desconstrução da imagem do “homem de verdade”.
Prepare-se para histórias tão dolorosas quanto inspiradoras.